O Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em CiĂŞncias Sociais em Ăfrica (CODESRIA) tem o prazer de anunciar o lançamento da chamada para submissĂŁo de propostas para a segunda edição de bolsas para Pesquisa em Conhecimentos IndĂgenas e Alternativos (AFRIAK). Este programa tem o apoio da Fundação Mastercard, como parte do compromisso da Fundação com o desenvolvimento da educação e a melhoria de competĂŞncias de jovens africanos.
O programa tem por finalidade implementar uma abordagem inovadora para a formação de uma nova geração de jovens, em particular mulheres, capacitando-os para conceber projectos de pesquisa e produzir conhecimento em parceria, com mentores acadĂŠmicos por um lado e, por outro, com detentores de conhecimento endĂłgeno. Esta abordagem previligiarĂĄ o conhecimento local, indĂgena e endĂłgeno como formas ou sistemas de conhecimento profundamente enraizados nas comunidades e intimamente ligados Ă s suas experiĂŞncias vividas. Embora estas formas de conhecimento possam estar geograficamente prĂłximas dos jovens em Ăfrica, permanecem em grande medida inacessĂveis, em parte devido Ă predominância de conteĂşdos curriculares de escolas e universidades baseados em modelos ocidentais de formação .  Eles tambĂŠm sĂŁo limitados pela natureza gerontocrĂĄtica de nossas comunidades, onde esse conhecimento ĂŠ preservado para poucos detentores, predominantemente homens . Neste sentido, a abordagem do AFRIAK ĂŠ inovadora na medida em que nos redirecciona para a valorização do que existe nas nossas comunidades e convida-nos a reconhecer as diversas formas como esses saberes sĂŁo aplicados, preservados e transmitidos.
No seu cerne, o AFRIAK assenta na convicção de que a formação de uma nova geração de jovens, dotados de competĂŞncias para produzir e aplicar conhecimento enraizado nas realidades indĂgenas e locais, permitirĂĄ gerar dados Ăşnicos, contextualizados e passĂveis de aplicação prĂĄtica. Acreditamos que estes dados contĂŞm conhecimentos valiosos capazes de  apoiar/sustentar intervençþes de polĂticas pĂşblicas orientadas para a promoção de meios de subsistĂŞncia dignos e sustentĂĄveis, bem como para os jovens e para as comunidades indĂgenas e locais.
Importa salientar que a noção de âIndĂgenaâ ĂŠ contestada, uma vez que a sua genealogia colonial carrega conotaçþes pejorativas. Este programa de pesquisa e bolsas procurarĂĄ examinar criticamente o termo e despojĂĄ-lo dessas conotaçþes negativas, permitindo que o valor pleno de âaquilo que temosâ nas nossas comunidades seja reconhecido, recuperado e apreciado.
Pesquisas anteriores realizadas no CODESRIA, lideradas pelo filĂłsofo beninense Paulin Hountondji , analisaram o uso problemĂĄtico da noção de âindĂgenaâ, associando-o Ă sua herança colonial e Ă persistente dependĂŞncia cientĂfica em Ăfrica[1]. Nas sociedades colonizadas, âIndĂgenaâ era contraposto a âexĂłticoâ, implicando que o primeiro era nativo, tradicional, primitivo e resistente Ă mudança. O conhecimento indĂgena (CI) era, assim, enquadrado como vernacular, nĂŁo civilizado, empobrecido e supersticioso. Hountondji analisou estas formas de conhecimento, observando que a persistĂŞncia dessas conotaçþes pejorativas sĂł fazia sentido em contextos de contĂnua extraversĂŁo do conhecimento em Ăfrica[2]. Preferiu a noção de âendĂłgenoâ Ă de âindĂgenaâ, argumentando que essa reformulação recentraria Ăfrica na produção de conhecimento. Este programa, embora reconheça esses debates e o peso histĂłrico que muitos termos carregam, utiliza a noção de âconhecimento indĂgenaâ para se referir ao conhecimento orgânico Ă sociedade, inspirando-se no conceito de intelectual orgânico de Gramsci. Sublinha a ideia de âusar o que temosâ, reconhecendo simultaneamente que o conhecimento presente na sociedade nĂŁo ĂŠ estĂĄtico nem existe isoladamente; antes, evolui continuamente atravĂŠs da interacção com outros sistemas de conhecimento[3].
ACTIVIDADES DO PROGRAMA
O projecto de pesquisa e bolsas AFRIAK envolverĂĄ trĂŞs actividades inter-relacionadas, a saber:
- Um programa de bolsas de pesquisa, formação e mentoria para jovens.
- Encontros de formulação e diĂĄlogo em polĂticas pĂşblicas.
- Uma rede de ex-bolsistas e de comunidade de prĂĄtica em conhecimentos indĂgenas e alternativos.
RESULTADOS ESPERADOS
Estas trĂŞs actividades interligadas do programa foram concebidas para facilitar o alcance dos seguintes resultados:
- Criar oportunidades e espaços para que jovens pesquisadores, especialmente mulheres, se envolvam na produção de conhecimento multidisciplinar e o apliquem em colaboração com acadĂŠmicos, activistas, profissionais de polĂticas pĂşblicas, detentores e guardiĂľes de conhecimentos indĂgenas.
- Facilitar a pesquisa colaborativa que reduza o isolamento de detentores,guardiĂľes eestudiosos de conhecimentos indĂgenas em relação a outros produtores ou guardiĂľes de conhecimento, contribuindo para eliminar assimetrias e compartimentos estanques nos sistemas de produção de conhecimento.
- Expandir oportunidades para reforçar a capacidade dos participantes, especialmente daqueles historicamente e culturalmente marginalizados, incluindo refugiados, pessoas com deficiência, mulheres jovens e jovens de åreas rurais ou de outras regiþes carentes,de aceder e investigar conhecimentos enraizados nas comunidades.
- Transformar o conhecimento em acção, reforçando simultaneamente a sua capacidade de criar oportunidades de trabalho dignas e satisfatĂłrias para os jovens em vĂĄrios sectores, incluindo o sector criativo; sistemas digitais e outras indĂşstrias; desenvolvimento curricular, pedagogia e aprendizagem; clima e ambiente; agricultura, sistemas agro-alimentares e nutrição; saĂşde humana, vegetal e animal, entre outros sectores com necessidades e oportunidades urgentes em Ăfrica.
- Facilitar o surgimento de uma massa crĂtica de jovens investigadoras capazes e se envolver e formar futuras geraçþes de pesquisa e prĂĄtica em conhecimentos indĂgenas, incluindo a utilização de novas tecnologias, como a inteligĂŞncia artificial, para mobilizar e aplicar esses conhecimentos.
De modo geral, espera-se que o projecto possa conduzir Ă adopção e ampliação de conhecimentos indĂgenas e outras formas de conhecimento alternativo, servindo de base para apoiar estratĂŠgias voltadas para meios de subsistĂŞncia dignos para os jovens e as comunidades.
ĂREAS DE PESQUISA
As propostas submetidas no âmbito desta chamada deverão incidir sobre os seguintes temas:
- Conhecimentos indĂgenas e mĂŠtodos de conhecimento.
- CiĂŞncia e prĂĄticas mĂŠdicas indĂgenas.
- Conhecimentos indĂgenas e sector criativo
- Conhecimento indĂgena e sistemas de empreendedorismo.
- Agricultura e sistemas agro-alimentares.
- Mobilização de sistemas digitais para conhecimentos indĂgenas em Ăfrica.
- Pedagogias indĂgenas e desenvolvimento curricular.
- Conhecimentos indĂgenas no desenvolvimento do capital social.
- Tecnologias indĂgenas e desenvolvimento sustentĂĄvel.
- Conhecimentos indĂgenas, mudanças climĂĄticas e sustentabilidade ecolĂłgica.
- PatrimĂłnio dos conhecimentos indĂgenas na nutrição.
- LĂnguas indĂgenas e ciĂŞncia.
- Conhecimentos indĂgenas, religiĂŁo e ciĂŞncia da espiritualidade.
- Conhecimentos indĂgenas, sistemas de governação e construção do Estado.
PĂBLICO-ALVO DESTA CHAMADA
Esta chamada destina-se a jovens nacionais africanos com idade atĂŠ 35 anos no momento da candidatura, residentes no continente africano. Os candidatos devem estar envolvidos em actividades de pesquisa e produção de conhecimento que utilize, ou tenham como objetivo utilizar perspectivas de conhecimento indĂgena oulocal. Devem estar vinculados a instituiçþes formais de pesquisa e produção de conhecimento ou a centros de pesquisa em conhecimentos indĂgenas em Ăfrica. Profissionais com idade atĂŠ 35 anos, com qualificaçþes acadĂŠmicas e activamente envolvidos em actividades que adoptam perspectivas de conhecimento indĂgena oulocal, sĂŁo igualmente incentivados a candidatar-se.
AtÊ 70% dos jovens seleccionados para a bolsa serão mulheres. Em consonância com o seu compromisso com uma participação inclusiva e equitativa, o CODESRIA incentiva fortemente candidaturas de pessoas com deficiência. O Conselho implementou medidas de salvaguarda para acomodar um grupo diversificado de candidatos seleccionados.
ESTRUTURA E DURAĂĂO DA BOLSA
A bolsa incluirĂĄ um workshop de indução, trabalho de campo, uma residĂŞncia num polo intelectual, um instituto virtual de meio-percurso, actividades de disseminação e actividades pĂłs-bolsa, nas quais os antigos bolsistas contribuirĂŁo para uma comunidade de prĂĄtica em conhecimentos indĂgenas e outros sistemas de conhecimento. Os bolsistas serĂŁo organizados em equipas e receberĂŁo apoio de mentores acadĂŠmicos, detentores de conhecimentos indĂgenas/locais e polos intelectuais identificados pelo CODESRIA, com o objetivo de reforçar o envolvimento acadĂŠmico e comunitĂĄrio. A duração total da bolsa ĂŠ de sete meses, sendoque um desses meses serĂĄ passado num polo intelectual situado num paĂs diferente do paĂs de cidadania do candidato seleccionado.
MODALIDADES DE CANDIDATURA
SerĂŁo bem-vindas tanto candidaturas individuais quanto de grupo.
CANDIDATOS INDIVIDUAIS devem fornecer as seguintes informaçþes directamente no sistema de submissão:
- Dados do CurrĂculum Vitae: os candidatos devem fornecer informaçþes biogrĂĄficas e profissionais essenciais.
- Nota conceptual: os candidatos deverão preencher uma nota conceptual estruturada, com secçþes que identifiquem e desenvolvam um tema de pesquisa, apresentem uma breve revisão do corpo do conhecimento que o fundamenta, descrevam a metodologia proposta e indiquem os resultados esperados.
- Cartas de recomendação: os candidatos devem anexar duas cartas de referência assinadas, cada uma com o limite de uma pågina, provenientes de duas pessoas que conheçam o trabalho do grupo e que o apoiem enquanto colectivo, e não apenas os seus membros individualmente.Note-se que as cartas de referência tambÊm são objecto de avaliação e contribuem de forma significativa para o sucesso da candidatura.
CANDIDATURAS EM GRUPO devem ser compostas por um mĂnimo de trĂŞs e um mĂĄximo de cinco membros, sendo pelo menos 70% do grupo constituĂdo por mulheres. A inclusĂŁo de qualquer membro do grupo que nĂŁo cumpra os critĂŠrios de elegibilidade definidos na secção âPĂşblico-alvo desta chamadaâ implicarĂĄ a desqualificação de todo o grupo.
Os candidatos em grupo devem fornecer as seguintes informaçþes diretamente no sistema de submissĂŁo de candidaturas: –
- Dados do CurrĂculo Vitae: informaçþes biogrĂĄficas e profissionais essenciais de cada membro do grupo.
- Nota conceptual: uma nota conceptual estruturada, com secçþes que identifiquem e desenvolvam um tema de pesquisa, apresentem uma breve revisão do corpo do conhecimento que o fundamenta, descrevam a metodologia proposta e indiquem os resultados esperados.
- Cartas de recomendação: devem ser anexadas duas cartas de referência assinadas, cada uma com o limite de uma pågina, provenientes de duas pessoas que conheçam o trabalho do grupo e que o apoiem enquanto colectivo, e não apenas os seus membros individualmente. Note-se que as cartas de referência tambÊm são objecto de avaliação e contribuem de forma significativa para o sucesso da candidatura.
PROCESSO DE SUBMISSĂO
As candidaturas devem ser submetidas atravĂŠs do portal do CODESRIA reservado para esta bolsa, em https://codesria.org/application-form-african-fellowships-for-research-in-indigenous-and-alternative-knowledges-2026/
APENAS SERĂO CONSIDERADAS AS CANDIDATURAS RECEBIDAS ATRAVĂS DESTE PORTAL
O prazo limite para a submissĂŁo de candidaturas ĂŠ 15 de Fevereiro de 2026, Ă s 23:59 GMT
Quaisquer esclarecimentos adicionais devem ser dirigidos ao endereço electrónico afriak@codesria.org
[1] Paulin Hountondji, âScientific Dependence in Africa Todayâ, in Research in African Literatures, Vol. 21, No. 3, 1990.
[2] Paulin Hountondji, âRecherche et extraversion: ĂŠlĂŠments pour une sociologie de la science dans les pays de la pĂŠriphĂŠrieâ, in Africa Development / Afrique et DĂŠveloppement, Vol. 15, No. 3/4, 1990
[3] There are similar discussions along these lines led by Yuen Yuen Ang, the Alfred Chandler Chair Professor of Political Economy at Johns Hopkins University and author of the How China Escaped the Poverty Trap.